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Disponibilizamos nesta página do Festival Penalva os arquivos dos eventos organizados pela Profa Dra Elizabeth Seraphim Prosser durante vários anos.

Abaixo uma apresentação geral da autora e, em seguida, documentos dos anos de 2011 a 2018.

Festival Penalva


 

ISSN 18092616
ANAIS
V FÓRUM DE PESQUISA CIENTÍFICA EM ARTE
Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

Curitiba, 2006/2007


ENFIM, UM LOCAL APROPRIADO PARA A

OBRA DE PENALVA. MAS, E OS OUTROS? 


Elisabeth Seraphim Prosserbettyprosser@gmail.com


JOSÉ PENALVA: TEÓLOGO E MÚSICO

(Acesse aqui o documento original com as citações)

Teólogo e compositor nacionalmente conhecido, José Penalva(1) dedicou sua vida ao sacerdócio e à música. Suas atividades envolviam a composição, a regência, a musicologia, a teologia, a docência e a elaboração de livros, além da pregação e do atendimento a obras comunitárias e pessoais. Cinco palavras o descrevem: sabedoria, humor, humanidade, genialidade e humildade.

Atuou por quatro décadas como professor da Escola de Música e Belas Artes do Paraná e do Studium Theologicum, tanto em cursos de graduação como de pós-graduação. Exerceu o magistério ainda na Escola Superior de Música de Blumenau em Santa Catarina e em cursos de férias em todo o Brasil.

Entre as premiações recebidas destacam-se:

Medalhas de Prata e Troféu concedidos pelo Governo do Paraná, 1º Prêmio no Concurso Lasar Segall em São Paulo; e Premiação no Concurso de Monografias sobre Carlos Gomes, promovido pela Funarte. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Música, no Rio de Janeiro, e empossado em Brasília como membro da Academia de Letras e Música do Brasil.

Entre as disciplinas que lecionou estão Teologia, Filosofia, Contraponto e Fuga, Composição e História da Música do Século XX. Muitos de seus trabalhos sobre teologia e algumas composições foram publicados, permanecendo, porém, a grande parte da sua produção ainda inédita, especialmente as suas preciosas apostilas, que escrevia como texto-base para os diversos cursos regulares ou de férias que ministrava. Suas composições, um relevante conjunto de obras de vanguarda e pós-vanguarda, continuam, na sua maioria, apenas manuscritas e não digitalizadas ou publicadas, o que exige que novos pesquisadores e defensores das artes do Estado se engajem na tarefa de preservar, conhecer e divulgar a arte da região.

O PROJETO PADRE PENALVA: PATRIMÔNIO E MEMÓRIA

O Padre José Penalva era um compositor, de acordo com suas próprias palavras e como outros grandes, um tanto desorganizado com a sua obra. No entanto, nos últimos anos de sua vida, passou a preocupar-se com um lugar adequado para ela.

Foi a partir de 1995, quando da elaboração do seu catálogo, que resultou no livro Um olhar sobre a música de José Penalva: catálogo comentado,2 que ele em diversas ocasiões dizia: “Achei mais alguns papéis para você, pode vir busca-los”.

E, quando, depois de examiná-los e fotocopiá-los para posterior estudo, queria devolver aqueles “papéis” que, muitas vezes, eram algumas das suas obras mais representativas, ele me dizia: “Não, não, filha! Quero que fiquem todos com você, pois com você vão estar mais bem guardados que comigo.” Sentia-me assustada com a responsabilidade de guardar e preservar parte tão importante na história da nossa música. Manuscritos, muitos dos quais única versão existente, teriam que ser muito bem armazenados, com todos os cuidados que uma produção artística dessa envergadura exige. Ao mesmo tempo, apenas guarda-los e preservá-los não seria suficiente: importantíssimo seria divulgar, tornar conhecida e acessível a todos os interessados a obra deste que foi um compositor de grande destaque da música brasileira. Mas como fazer isso? Este seria o papel de uma instituição, que contasse com um setor específico para partituras de compositores paranaenses, com uma sala especial para obras raras devidamente climatizada, com cópias para consulta e com pessoal para atendimento ao público.

Passei a visitar as instituições governamentais e particulares existentes (Museu da Imagem e do Som, Biblioteca Pública do Paraná, Casa da Memória, Canal da Música, Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Faculdade de Artes do Paraná, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Arquivo Público, Círculo Bandeirantes, entre outras) e, se algumas não ofereciam condições mínimas para a guarda e a preservação de tais conjuntos documentais, outras não dispunham de estrutura para a sua divulgação e difusão, às vezes por questões de espaço físico, organizacional ou de pessoal.

Desta procura e do exame das possibilidades para a criação de um Acervo da Música Paranaense resultou um artigo, apresentado no III Simpósio Latino-Americano de Musicologia (realizado no âmbito da XVII Oficina de Música de Curitiba, em janeiro de 1999). Sob o título SOS! Compositores procuram acervos institucionalizados,3 manifestava a indignação pela falta absoluta de condições de preservação em algumas das instituições mencionadas e pelo descaso das autoridades e do poder público na criação de um acervo desta natureza.

Em conversas com Pe. Penalva durante esse período, ele próprio se mostrava atento e preocupado com esse assunto. Falávamos sobre as várias opções, fomos juntos a algumas das instituições que poderiam, eventualmente, e de acordo com as condições que fossem estabelecidas, abrigar a sua obra e, posteriormente, a de muitos outros compositores, instituindo este grande Acervo da Música Paranaense. Mas tudo em vão. Esbarrávamos sempre em problemas financeiros, estruturais, de pessoal ou de falta de entendimento da importância e do valor das obras e do Acervo referidos.

Foi apenas após o falecimento deste grande compositor, em 2002, que surgiu uma possibilidade concreta e que resolveria a questão. Ao expor a situação ao Pe. Jaime Sánchez Bosch(4) e na ânsia de devolver as partituras e os documentos do compositor que estavam ainda sob a minha guarda, bem como de encontrar um lugar adequado para elas, vislumbrou-se uma solução. Isso, graças à sua visão de cidadão culto e esclarecido, à sua sensibilidade quanto à preservação responsável desse importantíssimo acervo histórico, documental, artístico e teológico e a uma feliz coincidência.

Feliz coincidência, porque nessa época havia uma equipe de museólogas, historiadoras e técnicas em conservação, trabalhando na criação do Museu Claretiano, nas dependências do Studium Theologicum, em Curitiba. Padre Jaime sugeriu que essa equipe e eu escrevêssemos um projeto a ser aprovado na Lei Municipal de Incentivo, que se ocupasse do patrimônio e do legado teológico e musical que Pe. Penalva deixara. Foi o que fizemos.

Os membros da equipe que propôs e realizou o Projeto Padre Penalva: Patrimônio e Memória foram a museóloga Hélina de Souza Baumel, a especialista em conservação Rúbia Stein do Nascimento, a musicóloga e historiadora da arte Elisabeth Seraphim Prosser, as historiadoras Eny Alpendre e Silvana Bojanoski e o técnico em processamento de dados Danilo Saleme Sarraff.

O Projeto constou das seguintes etapas:

1. identificação do acervo: triagem;

2. higienização e conservação: limpeza, planificação e acondicionamento;

3. inventário / arrolamento do acervo: organização / fichamento de livros, fotos, slides, documentos textuais, artísticos e sacros; identificação / leitura de partituras; fichamento e organização de composições próprias e de terceiros; fichamento e organização das composições em suporte de papel; criação de banco de dados;

4. pesquisa histórica: levantamento e organização das fontes para pesquisa; pesquisa / levantamento de dados; identificação / leitura de documentos textuais; coleta e transcrição de depoimentos orais;

5. exposição: projeto museográfico; seleção do acervo; projeto gráfico para painéis da exposição; montagem de exposição; adequação do espaço físico; instalação de equipamentos suporte de exposição e guarda do acervo;

6. publicação de livro;

7. elaboração de CDRom.

Como resultado final, foi criado o Espaço José Penalva, que ocupa quase duas salas do Museu Claretiano, o qual está localizado nas dependências do Studium Theologicum, à Rua Getúlio Vargas, 1193, em Curitiba. Além disso, foi publicado o livro: José Penalva, uma vida com a batina e a batuta, (5) de Elisabeth Seraphim Prosser e Silvana Bojanoski, e o CDRom, intitulado Padre Penalva: Patrimônio e Memória, elaborado por Danilo Saleme Sarraff.

No Espaço José Penalva mantém-se uma exposição permanente de objetos litúrgicos, pessoais e de trabalho do compositor, além de painéis contando sua vida e obra e depoimentos de vários contemporâneos seus. Lá estão também organizados e acondicionados de acordo com processos museológicos todos os livros, recortes de jornal, fotografias, slides, fitas cassette, partituras suas e de terceiros, composições, objetos pessoais sacros e seculares, documentos, escritos sobre música e sobre teologia, suas preciosas apostilas sobre a história da música do século XX e sobre teologia, escritas como material-base para os inúmeros cursos regulares ou esporádicos que ministrou, além de outros documentos encontrados no seu escritório, nos seus aposentos e que estavam sob a guarda da autora do presente artigo. O material, organizado conforme a sua natureza, está todo catalogado. Todos os títulos dos livros e das partituras constam do banco de dados disponibilizado em versão impressa no próprio Museu e no CDRom mencionado. O acesso de pesquisadores a este acervo se faz mediante agendamento no próprio Studium Theologicum e visita acompanhada.

O livro José Penalva: uma vida com a batina e a batuta conta a trajetória do sacerdote-compositor. As autoras buscaram relacionar essas duas áreas às quais Penalva se dedicou, o sacerdócio e a música, não apenas entre si, mas ao temperamento e à caminhada de vida do mestre. Em anexo, sob o título A obra musical de José Penalva: listagem cronológica por formação, função e gênero, revista e ampliada, está uma listagem ampliada da sua obra, organizada de acordo com o Catálogo publicado em 2000, (6) com a numeração segundo a qual os manuscritos e/ou suas reproduções estão acondicionados no Espaço José Penalva.

Por ocasião da elaboração do referido catálogo, o compositor selecionou as obras que deveriam constar dele e, por conseguinte, várias composições não foram disponibilizadas para inclusão. Destas, algumas ele considerava representativas, mas não localizou em tempo de serem incluídas; outras, considerava exercícios de juventude, por isso, não significativas. Outras, ainda, não foram concluídas a tempo ou foram compostas depois da publicação do referido catálogo. A relação recém publicada inclui as composições constantes do catálogo, portanto aquelas que Penalva considerava relevantes, mais as obras desconhecidas e inéditas, encontradas no seu escritório entre 2002 e 2006. Buscou-se listar a totalidade das composições encontradas até aquele momento, com o intuito de se conhecer melhor e mais detalhadamente não apenas o todo da produção e a diversidade da trajetória estilística do compositor, mas a transformação e o aprofundamento do seu pensamento religioso, estético e criativo no decorrer da sua caminhada.

Penalva tinha por prática rever, modificar e renomear suas obras, causando uma certa dificuldade para quem delas se aproxima. Nessa listagem, para facilitar a consulta, constam as denominações antiga e nova de obras que tiveram seus títulos alterados. Os nomes definitivos são, muitas vezes, não os que constam das partituras, mas os que Penalva definiu por ocasião da elaboração do seu Catálogo, entre 1994 e 2000. Há, ainda várias versões de uma mesma composição, algumas disponibilizadas para o Catálogo, outras não. Existem, também, várias composições diferentes com um mesmo título, ou uma mesma composição para diversas formações.

Por ter acompanhado e participado passo a passo da elaboração do Catálogo publicado em 2000, Penalva, segundo vários de seus depoimentos, o considerava definitivo. Assim, como mencionado, tomou a liberdade de eliminar algumas obras ou de não disponibilizar outras. No entanto, ao se ter acesso a esta parte “escondida” da sua produção [“Não a renego, apenas não creio que sejam composições representativas daquilo que eu sou” 7 ] não se pôde deixar de considerar todas as composições encontradas. Elas permitem reconhecer relações entre as mudanças no contexto social e na vida eclesiástica e artística do seu autor e as suas obras, quer quanto à sua função quer quanto ao seu conteúdo, à sua forma e ao estilo composicional.

A nova listagem é, portanto, uma lista revista e ampliada, na qual é fornecida, também, a página do Catálogo em que cada obra é descrita, bem como a numeração que recebeu quando da organização do seu acondicionamento, em 2005/2006, no Espaço José Penalva, no Studium Theologicum, em Curitiba. Esse cotejamento permite encontrar cada obra e as informações disponíveis.

O CDRom contém, entre outros elementos, todos os Bancos de Dados organizados e elaborados pela equipe para a catalogação e o acondicionamento do material encontrado no escritório e nos aposentos do Pe. Penalva, além de reportagens, fotos, informações sobre a vida e a obra do sacerdote-compositor, depoimentos, relatos sobre o processo de execução do Projeto Padre Penalva: Patrimônio e Memória, aspectos do Espaço José Penalva etc.

Fica aberta a sugestão para que novos pesquisadores continuem este trabalho, digitalizando e disponibilizando a obra do compositor, editando suas partituras, livros e apostilas e executando e gravando a sua música.

E OS OUTROS?

Mas, se para a produção de Penalva foi possível encontrar um lugar adequado, uma instituição séria e responsável que a preserve e dela se ocupe, o que dizer da obra de outros compositores paranaenses? Existem algumas “pilhas de papel pautado escrito” em vários lugares da cidade. Estão esquecidas em algumas gavetas ou prateleiras em bibliotecas ou em instituições que literalmente “não sabem o que fazer com elas”, e que, na sua grande maioria, por desinformação de seus funcionários, já quase foram jogadas fora ou doadas para quem delas quisesse fazer algum uso. Acervos inteiros de obras de compositores dos séculos XIX e XX estão nessas condições. A situação é realmente alarmante, se não desesperadora.

É preciso que a comunidade artística, especialmente a musical, se una em torno dessa questão, sob pena de perder ainda mais da sua herança cultural e histórica. Não foi o caso das composições de Penalva, mas sabe-se que muitos manuscritos de outros autores se perderam ou se deterioram pela ação do tempo.

Fica aqui o desafio para que novos pesquisadores, regentes, instrumentistas, cantores, compositores, professores e organizadores culturais continuem a lutar pela criação de um Acervo da Música Paranaense que preserve, divulgue e promova a música criada no Estado.

 

REFERÊNCIAS

PROSSER, Elisabeth Seraphim. SOS! Compositores procuram acervos institucionalizados. III SIMPÓSIO LATINOAMERICANO DE MUSICOLOGIA (Curitiba, janeiro 1999). Anais do... Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2000. p. 215224.

PROSSER, Elisabeth Seraphim. Um olhar sobre a música de José Penalva: catálogo comentado. Curitiba: Champagnat, 2000.

PROSSER, Elisabeth Seraphim; BOJANOSKI, Silvana. José Penalva, uma vida com a batina e a batuta. Curitiba: Unificado, 2006.

 

 

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